sexta-feira, 22 de outubro de 2010

João Oliveira, presidente da Junta de Freguesia de Glória do Ribatejo: "Somos todos culpados nesta morte"

«Filho matou o pai a murro e pontapé. GNR conhecia a violência doméstica. Médico de família também.


- João Oliveira, presidente da Junta de Freguesia de Glória do Ribatejo -


"Tanto que eu pedi ajuda às pessoas", balbuciava enquanto chorava Quitéria Coutinho, de 58 anos, à porta de casa, quarta-feira à noite, olhando para o corpo do marido, José Nunes Dias, de 57, que jazia na estrada empoeirada, em Glória do Ribatejo, Benavente.

Quitéria, com feridas na cara provocadas pelas agressões do filho, Arsénio Coutinho, 37 anos, assistiu à morte do marido. "Ela viu o filho a dar murros e pontapés na cara do pai desmaiado no chão", descreve José Nunes, de 65 anos, tio do agressor, vizinho e testemunha do crime.

Arsénio, com formação em desenho técnico, topógrafo profissional, gosto pela cultura e amante de informática, terá problemas psiquiátricos. "Ele deveria sofrer de problemas de esquizofrenia. Era uma pessoa revoltada. Existiam várias queixas na GNR por violência doméstica", explica o vizinho do casal Coutinho, João Oliveira, presidente da Junta de Freguesia de Glória do Ribatejo.

Os pais de Arsénio já tinham apresentado tantas queixas à GNR quanto as que retiraram.

O presidente da Junta de Freguesia encontra culpados. "Somos todos culpados nesta morte. Os amigos e a família conheciam a situação, o médico da família foi alertado várias vezes pela mãe para o estado psicológico do filho, a GNR sabia dos espancamentos. Sabíamos que um dia podia acontecer uma tragédia. Aconteceu", diz, inconformado, o presidente.

Arsénio Coutinho vivia em casa dos pais. As agressões a João e Quitéria eram frequentes. "A maior parte das vezes era para eles lhe darem dinheiro", explica o tio José.

"Ele gostava de ir a um bom restaurante e beber uma boa garrafa de vinho", continua João Oliveira. Ultimamente, Arsénio gostava de se passear pela vila numa trotinete eléctrica.

Segundo os vizinhos, o aparelho de topografia a laser que o pai lhe comprara poucas vezes saía do estojo para o campo de trabalho.

"O feitio dele não ajudava. Causava mal-estar onde estivesse", explica João Oliveira.

Quarta-feira, ao fim do dia de trabalho como fresador numa empresa de Alverca, José Dias chegou a casa. "O filho fartou-se de o aborrecer. À porta de casa deu-lhe um encontrão com a trotinete. O meu irmão caiu e ficou desmaiado", explica o tio de Arsénio.

Segundo as testemunhas, a mãe acorreu em socorro do marido e foi agredida a soco pelo filho. Arsénio começou então a socar e a pontapear desenfreadamente o pai desmaiado.

"O meu irmão ficou todo desfigurado. Ele até saltou em cima da cara dele", conta o tio, que se deslocou para o local a cerca de 50 metros da sua casa.

Arsénio, ao ver os vizinhos aproximarem-se, saiu do local por uma zona de campo. Foi detido pela GNR a cerca de 500 metros da casa onde vivia com os pais.

"Ainda chamámos o INEM, mas ele estava já com a pulsação muito fraquinha", conta José Nunes.

Arsénio vai ser ouvido hoje de manhã no Tribunal de Vila Franca de Xira.»


in DN online, 22-10-2010


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